quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Entre a autoria e a edição

Zilda Breda Ortolan e Nairo Luiz Ortolan
na Itália reconstruindo a história da família

A iniciativa de desenhar o percurso dos Ortolan aqui publicada, é fruto da pesquisa e autoria de Nairo Ortolan que, juntamente com sua esposa e grande parceira Zilda Breda Ortolan, refizeram a trajetória reversa de imigração da família em busca de documentos e depoimentos da época para traçar a história do núcleo da família Ortolan, vinda da Itália para o Sul do Brasil.

Dono de uma organização invejável, tanto de seus registros quanto dos documentos que conseguiu reunir, Nairo prefacia seu texto com muita assertividade no propósito de “não apresentar uma obra literária, mas escrever em termos simples e objetivos o que se conhece da família Ortolan e sua trajetória de vida”.

A partir do texto de Nairo, o irmão Mário Ortolan realizou estudos que aprofundaram a genealogia da família, registros de com quem casaram, para onde foram e como se desenvolveu cada núcleo. A filha de Mário, Gisele Ortolan, jornalista, também é colaboradora deste texto.
Os fatos e histórias aqui relatadas foram reconstituídas com o auxílio de familiares, pessoas que conviveram ou conheceram membros da família, dentre as quais especial contribuição de Damian, Astolfi e Sybilla Sonaglio Ortolan, esposa de Sylvio Ortolan.


Os irmãos Nairo e Mário Ortolan e Márcia Taborda
Em agosto de 2019
Este registro não se propõe concluso por sua extensão histórica e geográfica que, como tantas histórias de famílias imigrantes, abarca núcleos que permanecem unidos dentre outros que se perderam no tempo e no espaço, dificultando, algumas vezes, a reconstituição fidedigna.

Nos casos de lacunas, o registro de Nairo Ortolan é contemporizado com o que conseguiu reunir de versões e suas fontes, assim como “relatos contraditórios” que serão apontados no texto até para que se possa enriquecer a história da família por fatos vindouros.

Ao tomar conhecimento sobre a pesquisa e escrita de Nairo Ortolan e a fim de torná-la pública e acessível, ao menos ao seus núcleos mais próximos, propus esta editoração. Trabalho que recebo com o mesmo carinho que a família Ortolan me recebeu e que me deixa honrada pela confiança. Em se tratando de alguém tão comedido nas palavras, sinto-me privilegiada de desfrutar de sua companhia e relatos neste processo.

Quanto ao formato da publicação, entendemos, eu e o autor, que, na intenção de ainda enriquecer dados e documentos, publicamos o blog antes da versão impressa.

Cheia de ideias e sedenta por ajudar a reconstituir esta história, subscrevo-me,



Márcia Taborda

ORTOLAN: Origem da Família


Festa de despedida do Josepp em Dois Lageados
Arquivo Pessoal do Autor

A origem da família Ortolan é italiana, onde ainda vivem descendentes na localidade de Stavena, Caneva, Província de Pordenone na Itália, Região do Veneto. Com a imigração se espalharam para diversos países no mundo, principalmente para o Brasil.

Família numerosa, muitos descendentes ORTOLAN imigraram para o Brasil entre 1879 e 1888, na região Sul e muitos em São Paulo. Os registros indicam que os primeiros a chegarem na região Sul (região de Sta Maria), foram Antônio, Catarina, Natalina, em 18 de janeiro de 1879. A maioria entrou no Brasil entre 1887 e 1888.

O Brasão ORTOLAN, foi concedido pelo governo da Província de Pordenone à família de Girolamo Ortolan, por ocasião da saída da família da Itália para o Brasil, 1889. O original está em poder da família, na casa de Vilmar Ortolan, na linha Colombo, em Guaporé-RS.
Arquivo Pessoal do Autor


Neste Brasão encontra-se escrito o seguinte texto:
Família do Ducato de Ferrara, onde recordamos: Giuseppe, nascido em 1790, Antônio, de Montesanto e Ferrante, nascido em 1792. Angelo, nascido em Siena no ano de 1788, foi compositor de música, morreu no ano de 1871. Terenzio, nasceu em Pesandro em 1799 foi compositor de música, um ramo desta família passou para o Veneto onde cresce atualmente.
Estas informações são anteriores a 1887, ou seja, antes de Girolamo e sua família imigrar para o Brasil.






Região de Veneto, Itália
Fonte: Universidade Federal do Paraná
Família numerosa, espalhada por grande parte da região do Veneto, a família Ortolan, vem da localidade de Stavena, comuna de Caneva, província de Pordenone. De 1879 até 1888 muitos descendentes ORTOLAN imigraram para o Brasil, na região Sul, e outros em São Paulo. Os registros levantados indicam que os primeiros a darem entrada, na região Sul em Sta Maria, foram Antônio, Catarina, Natalina, em 18 de janeiro de 1879.


ORTOLAN: Histórico do Nome

Photo by pavlik
Fonte: birdforum.net


Em italiano, o sobrenome Ortolan é classificado como sendo de origem ocupacional. Pode ser dito que os sobrenomes mais interessantes são aqueles derivados da ocupação do portador original. Os sobrenomes ocupacionais têm provado o que tem sido descrito por estudiosos como “uma complicação dos ofícios comuns da Europa medieval”.

Com relação ao sobrenome Ortolan, o mesmo é derivado da palavra italiana “Ortolano”, significando “verdureiro”. Alternativamente, este sobrenome também tem significação da palavra italiana “Ortolano” e “Ortolan”, que remete a um pequeno pássaro castanho europeu, muito apreciado pelos europeus, como tira-gosto. Aqui no Brasil temos pássaros semelhante tipo o tico-tico e o pardal.

Assim, o portador original deste sobrenome era conhecido pelos membros da sua comunidade como o “verdureiro”, ou como alguém que caçava “Ortolanos”. As variantes deste sobrenome incluem Ortolan e Ortolani.

Uma das primeiras referências a este sobrenome ou a uma variante do mesmo é um registro de Damisa, Libione e Delia Ortolano, originalmente de Pisa, senhores feudais da ilha de Cosso, que se estabeleceram em Cefalú, na Sacile (proximidades de Pordenone), no século XIII.

Andrea Ortolano, barão de Pasquale, foi um celebrado jurisconsulto do Reino em 1631. Os portadores notáveis do sobrenome Ortolano incluem Francesco Ortolano (1544-1623), um padre jesuíta, e Giuseppe Ortolano, trabalhador em uma casa da moeda, em torno de 1689. Este sobrenome foi introduzido nos Estados Unidos já em 1884, em cujo ano encontramos o registro da emigração de C. Ortolano, que partiu de Nápoles a bordo do navio “Alsatia”, e chegou a Nova York em 26 de maio de 1884.

Brasão Família Ortolani / EUA
Imagem Pesquisada de acordo com

a descrição do autor. Fonte: Google

Este brasão de armas foi concedido à família Ortolani que imigrou para os Estados Unidos da América.
Brasão de Armas: Faixa clara; o primeiro verde, um leão coroado, entre dois pinheiro nos flancos e três estrelas em chefe; todas em ouro; o segundo azul, em um terraço na cor natural, um cachorro prata amarrado a uma arvore na cor natural à sua direita, em frente a cerca ouro. 

Interpretação: Verde denota Esperança e Alegria e Ouro denota Generosidade.
Timbre: Uma águia negra, coroada em ouro.
Origem: Itália

O Brasão concedido à família Ortolani que imigrou para os EUA, é diferente do Brasão da família de Girolamo Ortolan. 

O original da família Ortolan está em poder de Vilmar Ortolan, filho de Ricieri Ortolan. Alguns dados e documentos foram conseguidos na Itália, em Caneva, lugar de origem da família Ortolan, por Nairo Ortolan e Zilda Ortolan.
Brasão da Familia Girolamo Ortolan
Arquivo Pessoal do Autor






terça-feira, 6 de agosto de 2019

Italianos Emigrantes

A triste realidade de abandonar a terra natal

Do período de 1848 a 1870 vários conflitos se sucederam na Itália: contra a Áustria, contra a Cecília e até contra o próprio papado. Após 1870, iniciou-se um novo programa de recuperação da Itália em prol de uma recuperação da situação econômica. Neste processo praticamente se formaram duas Itálias, uma ao norte Industrializada e outra no centro sul Agrícola.

A parte industrializada, formada por capitalistas europeus poderosos, sufocaram os pequenos produtores agrícolas e artesanais das regiões Centro e Sul. O progresso industrial se estabelece tão rápido quanto seu surgimento e, como consequência, os produtos de países vizinhos chegam ao mercado com preços impraticáveis por pequenas indústrias ou pelos produtores artesanais locais.

Os agricultores, ainda que com significativas áreas para produzir, sofrem com a concorrência dos produtos importados e com as altas taxas de impostos cobradas a ponto de muitos terem que vender parte dos bens e dispensar empregados. No ciclo de pobreza e endividamento que se cria a produção acaba servindo, quase que exclusivamente, para a subsistência.

Com pouca terra para produzir e famílias numerosas para alimentar, a pobreza se dissemina e a busca por uma sobrevivência digna torna-se iminente. Todo o cenário que se compõe de miséria, doenças e as diversas necessidades que surgem,  acaba por resultar em duas alternativas para o pequeno produtor: ou ele cede como mão de obra barata da indústria italiana ou abandona a terra natal.

Deste modo, a emigração além de se tornar uma alternativa para as famílias que perderam tudo na busca pelo sustento e sobrevivência, também representava um apoio econômico aos que ficavam e recebiam ajuda econômica de parentes.

A esperança na América


Cartaz de incentivo à imigração
Fonte: norditaliabuscadedocumentos.com
Com a abolição da escravatura em curso, em 1887, o governo brasileiro inclui ações políticas que visavam substituir a mão de obra escrava por trabalhadores europeus, na transição do trabalho escravo ao assalariado. A oportunidade oferecida aos imigrantes, entre eles os italianos, incluía terras e outros meios de subsistência que promovessem o início de uma nova vida. A Itália foi um dos países em que possibilitou aos italianos a se inscreveram para a grande aventura, Ao mesmo tempo que representava a incerteza do desconhecido, também era uma oportunidade de recomeçar que a vida lhes proporcionava.

Ao chegarem no Brasil, muitos deles nos portos onde desembarcaram enquanto esperavam para preencher os documentos necessários para o ingresso e os guias para que os levassem ao destino, eram roubados dos seus poucos pertences ou objetos trazidos da Itália. Seguiam viagem com o que lhe restara aos seus destinos tão incertos na esperança de recomeçar uma nova vida e virar a página de tempos tão severos.

A proposta era para que imigrantes povoassem as terras que estavam sendo demarcadas e vendidas a um preço acessível ou de trabalho nas lavouras de cafezais e fazendas de cana de açúcar. Com a abolição da escravatura muitos imigrantes italianos logo que desembarcavam eram contratados por fazendeiros para trabalhar nas fazendas no interior de São Paulo, mas que devido ao rigor dos patrões, ainda acostumados à escravidão, estes italianos tão logo que podiam se livrar se estabeleciam em outros locais, muitos destes locais demarcados pelo governo.

O Rio Grande do sul foi um dos estados incluído nesta demarcação de terras para os imigrantes. A região de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Antônio Prado, já estavam colonizados pelos primeiros imigrantes italianos e os que vieram a partir de 1887 foram estabelecidos primeiramente em Bento Gonçalves, Alfredo Chaves (hoje Veranópolis), Cotiporã e depois, por iniciativa própria se mudavam para novos locais, na medida em que o governo autorizasse a demarcação e venda de novas áreas de terras.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Nas pegadas de Girolamo

Em busca de reconstruir a história da família, Nairo e Zilda estiveram em Caneva, na Itália, em 1997, ocasião em que obtiveram algumas informações com o vigário da Igreja São Paulo. Ao analisar os livros de batismo e registro de assentamentos, concluiu-se tratar-se de uma família de posses, considerando que um dos filhos de Girolamo teve como padrinho um empregado da família. Explica o vigário que na época, uma família que dispunha de empregados supõe-se uma família próspera, possuidora de bens e capaz de mantê-los.
Ainda que consideradas prósperas, estas famílias ainda sofriam as agruras da guerra e das revoluções ocorridas naquela região. Girolamo foi um dos italianos que sofreu na própria carne as mutilações da guerra, sofreu graves ferimentos em um de seus braços impossibilitando-o de exercer atividades que exigissem maior força ou controle braçal. Casado, provedor de uma família de seis filhos, obrigou-se a lançar-se na busca de um novo lugar como imigrante para outro país.
Conforme registros nos livros existentes na paroquia de São Paulo em Caneva e na Igreja de Stavena, Comune de Caneva Provincia de Pordenone na Itália, encontram-se os registros de:
O casal, (Giovanni Baptista e Catharina Zorzetto Coan) eram pais de Girolamo Ortolan e Domenico Ortolan. 
Girolamo Ortolan, nascido em 06 de março de 1841, casou com Maria Lenisa, em 28 de fevereiro de 1870, filha de Giovanni Lenisa e Maria Pettinassi.
Girolomo e Maria Lenisa
Arquivo do autor

Domenico Ortolan, nascido em 1848, casou com Catarina Chiaradia. Nos registros obtidos em Caneva, não foi possível descobrir se Girolamo Ortolan tinha outros irmãos além de Domenico Ortolan. Viviam na localidade de Stavena, onde foram encontrados os registros da família e onde ainda existe o campanário e a igreja que a família Ortolan ajudou a construir. Lá encontra-se também o registro de batismo do filho mais velho de Girolamo Ortolan, Giovanni Baptista Ortolan (Giobata). Os outros filhos de Girolamo Ortolan, foram batizados na Igreja São Paulo em Caneva. 

Angela e Baptista Ortolan
Giovanni Baptista-Giobata ou Baptista (aqui no Brasil sempre usou em seus documentos o nome BAPTISTA).  No registro de casamento, Cartório Bertolini de Bento Gonçalves, consta como João Batista Ortolan. Na expectativa e interesse de obter a cidadania italiana e por não ter conseguido aqui no Brasil os documentos de batismo do avô (Baptista), Nairo Ortolan, acompanhado de sua esposa Zilda Breda Ortolan, foram a Stavena no ano de 1997. Em 110 anos foi a primeira vez que um neto de Giovanni Baptista regressou à terra onde seu avô nasceu, assim como a Igreja onde o avo  Baptista, foi batizado. Na paroquia tinha seu registro de nascimento.


Nairo na Igreja em Stavena, 1997
Arquivo Pessoal

Esta igreja foi restaurada e mantém a mesma Pia de Batismo onde Baptista foi batizado . O campanário original, obra que Girolamo Ortolan ajudou a construir ainda se encontra bem conservado. Esta igreja foi pintada por um Mazutti, família daquela localidade. Na secretaria desta Igreja foi possível conseguir copia do registro de batismo de Giovanni Baptista, documento este que possibilitou a complementação dos documentos necessários para encaminhamento do pedido de Cidadania italiana de familiares de Sylvio Ortolan.